Gostaria
de saber qual destas frases está correcta e porquê: a) Se eu fosse rico,
ofereceria-lhe... b) Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Quando utiliza um pronome clítico (ex.: o, lo, me, nos) com um verbo no futuro do indicativo (ex.
oferecer-lhe-ei) ou no
condicional, também chamado futuro do pretérito, (ex.: oferecer-lhe-ia), deverá fazer a mesóclise,
isto é, colocar o pronome clítico entre o radical do verbo (ex.: oferecer)
e a terminação que indica o tempo verbal e a pessoa gramatical (ex.: -ei ou
-ia). Assim
sendo, a frase correcta será Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Esta colocação dos pronomes clíticos é aparentemente estranha em relação aos
outros tempos verbais, mas deriva de uma evolução histórica na língua portuguesa
a partir do latim vulgar. As formas do futuro do indicativo (ex.: oferecerei)
derivam de um tempo verbal composto do infinitivo do verbo principal (ex.: oferecer) seguido de uma forma do presente do verbo haver (ex.:
hei),
o que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hei.
Se houvesse necessidade de inserir um pronome, ele seria inserido a seguir ao
verbo principal (ex.: oferecer lhe hei). Com as formas do condicional (ex.
ofereceria), o caso é semelhante, com o verbo principal (ex.: oferecer)
seguido de uma forma do imperfeito do verbo haver (ex.: hia < havia), o
que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hia
e, com pronome, a oferecer lhe hia.
É de notar que a reflexão acima não se aplica se houver alguma palavra ou
partícula que provoque a próclise do clítico, isto é, a sua colocação antes do
verbo (ex.: Jamais lhe ofereceria flores. Sei que lhe ofereceria flores).
Venho por este meio pedir-lhe que me esclareça se faz favor, a dúvida seguinte. Qual a frase correcta e porquê (penso que seja a segunda mas ouço muita gente utilizar a primeira): a) Eles hadem ver o que sou capaz de fazer. ou b) Eles hão-de-ver o que sou capaz de fazer.
A construção hão-de ver corresponde a uma forma do verbo haver
(usado como auxiliar para exprimir o futuro), seguida da preposição de (à
qual se liga por hífen, no português europeu, por se tratar de uma forma
monossilábica do verbo haver, o que acontece também com hei-de,
hás-de e há-de) e do verbo ver, considerado o verbo principal
da locução verbal. Por este motivo, a frase correcta é Eles hão-de ver
o que sou capaz de fazer, pois não existe nenhuma forma do verbo haver
que corresponda a *hadem (o asterisco assinala erro ou agramaticalidade).
Este erro é muito frequente, sobretudo na oralidade, por os falantes não terem consciência das fronteiras de palavra nem da categoria das palavras constantes em certas locuções. Assim, ao ouvir uma forma como Ele há-de ver, e sem a
preocupação de decompor a locução nos seus elementos constituintes, o falante
que comete este erro considera há-de como uma única palavra e atribui-lhe
a categoria de verbo. Quando tem de flexionar, este falante fá-lo como se se
tratasse de um verbo regular da segunda conjugação (*hader,
como comer, por exemplo), isto é, ao considerar *hade como
terceira pessoa do singular (se compararmos com um verbo regular seria o
correspondente a come), vai conjugar na terceira pessoa do plural como *hadem
(como se fosse comem). Este raciocínio será análogo para uma forma como
Tu *hades ver, em que a forma *hades corresponderia a uma
hipotética segunda pessoa do singular (como se fosse comes).
A Base XVII do Acordo Ortográfico de 1990 prevê a eliminação do hífen nas formas monossilábicas do verbo haver seguidas da preposição de, pelo que a frase correcta será Eles hão de ver o que sou capaz de fazer.
No português do Brasil, quer antes quer depois do Acordo de 1990, a forma correcta é "hão de", sem hífen.