Gostaria
de saber qual destas frases está correcta e porquê: a) Se eu fosse rico,
ofereceria-lhe... b) Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Quando utiliza um pronome clítico (ex.: o, lo, me, nos) com um verbo no futuro do indicativo (ex.
oferecer-lhe-ei) ou no
condicional, também chamado futuro do pretérito, (ex.: oferecer-lhe-ia), deverá fazer a mesóclise,
isto é, colocar o pronome clítico entre o radical do verbo (ex.: oferecer)
e a terminação que indica o tempo verbal e a pessoa gramatical (ex.: -ei ou
-ia). Assim
sendo, a frase correcta será Se eu fosse rico, oferecer-lhe-ia...
Esta colocação dos pronomes clíticos é aparentemente estranha em relação aos
outros tempos verbais, mas deriva de uma evolução histórica na língua portuguesa
a partir do latim vulgar. As formas do futuro do indicativo (ex.: oferecerei)
derivam de um tempo verbal composto do infinitivo do verbo principal (ex.: oferecer) seguido de uma forma do presente do verbo haver (ex.:
hei),
o que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hei.
Se houvesse necessidade de inserir um pronome, ele seria inserido a seguir ao
verbo principal (ex.: oferecer lhe hei). Com as formas do condicional (ex.
ofereceria), o caso é semelhante, com o verbo principal (ex.: oferecer)
seguido de uma forma do imperfeito do verbo haver (ex.: hia < havia), o
que corresponderia hipoteticamente, no exemplo em análise, a oferecer hia
e, com pronome, a oferecer lhe hia.
É de notar que a reflexão acima não se aplica se houver alguma palavra ou
partícula que provoque a próclise do clítico, isto é, a sua colocação antes do
verbo (ex.: Jamais lhe ofereceria flores. Sei que lhe ofereceria flores).
Uso, frequentemente, o vosso dicionário para esclarecer algumas dúvidas de palavras no português europeu. Ultimamente tenho me deparado com algumas escritas enviesadas a propósito do novo acordo ortográfico. É nesse sentido que mais recorro ao vosso dicionário, uma vez que esclarecem as palavras de dupla grafia. Tem sido bastante útil e parabenizo-vos pelo projeto. Porém, reparei que a palavra contacto, no vosso dicionário, surge como grafia única, quando deverá ser de dupla grafia (contacto ou contato).
Como previsto pelo texto do
Acordo Ortográfico de 1990, as duplas grafias são registadas no
Dicionário Priberam nos casos em que a chamada "norma culta" hesita entre a prolação e o emudecimento das consoantes -c- e -p-. A "norma culta", que o texto legal tantas vezes invoca como critério para aproximar a grafia da pronúncia, é difícil de aferir, pelo que, para as opções do dicionário ou do corrector ortográfico do
FLiP, a Priberam levou em consideração a transcrição fonética ou as indicações de pronúncia (ortoépia) registadas em dicionários e vocabulários.
Nas ferramentas da Priberam para o português europeu, a grafia da palavra contacto não sofre alteração com a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990 uma vez que, na norma europeia do português, o -c- é maioritariamente pronunciado, como poderá verificar pela consulta de dicionários ou vocabulários com transcrição fonética ou ortoépica, nomeadamente no Vocabulário da Língua Portuguesa de Rebelo Gonçalves, no Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa ou no Grande Dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora. Este caso é semelhante a outros em que a consoante é pronunciada (ex.: adaptar, facto, intelectual, pacto, secção) e que, consequentemente, não sofrem alteração no português europeu com a aplicação do Acordo Ortográfico de 1990.
As grafias referidas não são necessariamente as mesmas no português do Brasil, pois as diferenças de pronúncia entre a norma europeia do português e a norma brasileira fazem com que, mesmo após a aplicação do Acordo Ortográfico, sejam privilegiadas grafias diferentes em cada uma das normas (ex.: académico, facto, receção, secção, na norma europeia; acadêmico, fato, recepção, seção, na norma brasileira).