Tenho muitas dúvidas em relação ao uso dos verbos. Há verbos que exigem certas preposições e ultimamente tenho sentido dificuldades em distinguir quais são. Por exemplo utiliza-se constar em ou constar de; ter intenção de ou ter intenção para?
A questão colocada toca uma área problemática no uso da língua (e não só em relação aos verbos), pois trata-se de informação lexical, isto é, de uma estrutura que diz respeito a cada palavra ou constituinte frásico e à sua relação com as outras palavras ou outros constituintes frásicos, e para a qual não há regras fixas. Na maioria dos casos, os utilizadores conhecem as palavras e empregam as preposições correctas (ex.: Gosto de chocolate; Tenho um gosto especial por filmes antigos), e normalmente esse conhecimento é tanto maior quanto maior for a experiência de leitura do utilizador da língua.
Há muitos casos, porém, em que surgem dúvidas sobre a
preposição a utilizar (ou sequer se deve ser utilizada uma preposição) ou sobre a construção mais correcta de entre várias possíveis. Nestes casos, a resposta raramente se adequa a muitos casos, apenas a pequenos grupos de palavras, e deve
ser procurada quase caso a caso (por exemplo, verbos que podem ser sinónimos, como gostar e simpatizar, podem construir-se com estruturas diferentes, como gostar de e simpatizar com).
Assim, e especificamente para os exemplos de constar, pode dizer-se que este verbo é transitivo indirecto, podendo construir-se com as preposições de ou em (ex.: Há várias fases que constam do projecto; Aquele nome não consta na [= em + a] lista).
Pode também ser construído com a preposição a, mas já com
outro significado (ex.: Constou ao [= a + o]
patrão que o funcionário era incompetente). A par destas construções, o
verbo pode também ser intransitivo, isto é, não ter complementos (ex.: A
incompetência do funcionário já constava; O nome não consta).
Relativamente a (ter) intenção, também é possível a construção com ambas
as preposições de e para (com), embora em contextos diferentes,
exprimindo com de geralmente a descrição da
intenção (ex.: Tenho a intenção de fazer isso hoje; A nossa
intenção de ajuda foi mal entendida), e com para com
o destinatário da intenção (ex.: A nossa intenção para com
o novo colega é a melhor; A minha intenção para esta noite era dormir cedo).
Para esclarecer esta e outras dúvidas afins, é útil ter um ou mais instrumentos de consulta, nomeadamente dicionários de língua com exemplos de uso (por exemplo, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências/Verbo, o Dicionário Houaiss, do Círculo de Leitores), ou obras específicas sobre regências verbais e nominais (por exemplo, dicionários de regimes de verbos ou de substantivos e adjectivos, como os de Francisco Fernandes, da Editora Globo, ou os da Fim de Século Edições), ou ainda certos prontuários com listas de preposições para verbos, nomes ou adjectivos.