Como devo falar ou escrever: "o Departamento a que pertence o funcionário" ou "o Departamento ao qual pertence o funcionário".
Nenhuma das expressões que refere está incorrecta, uma vez que, em orações subordinadas adjectivas relativas, o pronome relativo que pode, de uma maneira geral, ser substituído pelo seu equivalente o qual, que deverá flexionar em concordância com o género e número do antecedente (ex.: os departamentos aos quais pertence o funcionário). No caso em questão, o pronome relativo tem uma função de objecto indirecto do verbo pertencer, que selecciona complementos iniciados pela preposição a, daí que os pronomes que e o qual estejam antecedidos nestas expressões por essa preposição (a que e ao qual).
É de notar que a utilização da locução pronominal o qual e das suas flexões não deve ser feita quando se trata de uma oração relativa adjectiva restritiva que não é iniciada por preposição, isto é, quando a oração desempenha a função de um adjectivo que restringe o significado do antecedente (ex.: o departamento [que está em análise = analisado] vai ser reestruturado; *o departamento o qual está em análise vai ser reestruturado [o asterisco indica agramaticalidade]).
Com relação à conjugação do verbo adequar e às explicações que vocês forneceram para uma consulta enviada, quero registrar que estranha-me o fato de vocês terminarem a explicação dizendo "..., como afirma Rebelo Gonçalves, que o termo (no caso, uma forma verbal) que hoje não passa de uma hipótese, futuramente poderá ser uma realidade."
Seguramente, se formos considerar tudo o que hoje é uma hipótese, já como realidade ouviremos inúmeros "a nível de Brasil", "houveram muitos problemas", "menas pessoas", "há dez anos atrás", "fazem muitos anos que não a vejo", etc.
Entendo que, a partir daí, as regras gramaticais não farão mais nenhum sentido na nossa língua portuguesa.
Sem contar que na conjugação desse mesmo verbo, no Pretérito Perfeito do Indicativo, vocês acentuaram a primeira pessoa do plural, regra de acentuação que desconheço e que, se vocês observarem, também não consta do Houaiss.
Permita-me uma segunda observação: a resposta para essa pesquisa vocês consultaram Rebelo Gonçalves, no Vocabulário da Língua Portuguesa, datado de 1966. A última reforma ortográfica data, se não me engano, de 1973, portanto muito tempo depois.
A defectividade de determinados verbos sempre foi objecto de discussão entre
linguistas e gramáticos, uma vez que, apesar de alguns serem considerados
defectivos em determinadas acepções, o uso das restantes formas que não fazem
parte do paradigma defectivo é sempre possível em determinados contextos. Os
outros casos que refere como sendo também possíveis de utilização normativa
futura são consensuais entre os gramáticos quanto à sua incorrecção, não gerando
qualquer discórdia a nível semântico, lexical ou sintáctico. A justificação
apresentada na resposta quer apenas indicar que, enquanto até há pouco tempo os
dicionários de língua e de conjugação registavam alguns verbos como defectivos,
existem obras que actualmente conjugam os mesmos verbos em todas as pessoas,
fazendo a indicação da sua defectividade nas gramáticas tradicionais.
O Vocabulário de Rebelo Gonçalves, apesar de editado em 1966, continua a
ser a referência para a elaboração de obras lexicográficas e para o
esclarecimento de muitas dúvidas. Enquanto não sair do prelo a nova edição
revista do Vocabulário de Rebelo Gonçalves ou um novo elaborado pela
Academia das Ciências de Lisboa que venha a ser reconhecidamente a referência
lexicográfica para o Português europeu, aquele continuará a ser a base por
excelência para a elaboração de dicionários e para a resolução de dúvidas
lexicais (para a norma europeia do Português).
Ao contrário do que refere, a última reforma ortográfica não data de 1973, uma
vez que a lei promulgada nesse ano em Portugal é apenas uma revisão e
simplificação de determinados pontos do acordo ortográfico de 1945, que o Brasil
não ratificou.
Quanto à flexão acentuada graficamente do verbo adequar no pretérito
perfeito do indicativo (adequámos), o paradigma dos verbos regulares da
1.ª conjugação prevê, em Portugal e não no Brasil, que se acentue as formas da
primeira pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo (que em Portugal
se pronunciam com a aberto) para se distinguir das formas do presente do
indicativo (que em Portugal se pronunciam com a fechado): comprámos/compramos,
lavámos/lavamos, registámos/registamos, etc.
Portanto, a conjugação apresentada no Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
está de acordo com o estabelecido no acordo ortográfico em vigor em Portugal.